Curriculum Vitae

O ano é 2010.

Dia 18 de Maio, uma terça-feira, gosto de registrar datas. Essa foi importante, não pela pizza, não pela conversa, não pela noite legal, mas pelo que tudo isso significou e as consequências que trouxe. Você acha que controla toda sua vida? Pare um pouco e pense melhor... O futuro e o tempo podem ser uns filhos da puta sem tamanho. Acredite.

Dia 21 de Maio, uma sexta-feira, gosto de registrar datas. Gosto de lembrar momentos, principalmente os que marcaram. Quero poder ler isso depois de semanas, meses, anos, e ver o que aconteceu de um jeito totalmente novo e diferente. Era quase o mesmo horário, era quase a mesma situação, eram quase as mesmas pessoas. Quase. Excetuando-se o fato de que tudo havia mudado. Um estranho déjà vu. Estranho e muito sacana.
Desse vez não foram necessárias horas de conversa, eles já se conheciam, de um mundo muito distante, anos-luz, sendo mais precisa. O tempo, então, relativo como é, havia corrido décadas desde a última vez... mesmo assim retomaram a conversa de onde ela havia parado. O nó continuava ali, o problema a ser resolvido antes de tudo começar a andar nos trilhos novamente. Era agora ou nunca.
Clímax. Closes de câmera e todo o resto. Afinal, se aquilo não era cena de novela, não sei mais o que foi... Sabe quando te pregam uma peça, e logo depois aparece todo mundo rindo da sua cara de bobo? Esperei as câmeras aparecem e já estava treinando minha cara de babaca, afinal, queria fazer bonito no meu papel. A cena tava perfeita, fiquei nervosa com a demora das câmeras, mas elas chegariam... Certo?
Errado.
Pane. Pânico. É sério?
Era sério. Pane. Pânico. De novo. Até ele começar a falar. E cada frase era uma bofetada na minha pobre memória, que havia conseguido (com tanto esforço) bloquear cada pedaço de lembrança que ele trazia a tona naquele instante. Merda. E cada frase me dizia o completo oposto de tudo o que me convenceram. E cada frase acabava com minha vidinha normal, tranquila e sem graça, que eu tinha conseguido de volta (com mais esforço ainda!).
Porra! Senti raiva, tristeza, senti nem sei o que diabos. Ninguém tinha esse direito. Não conseguia respirar fundo e me acalmar. Ia me acalmar quando conseguisse entender tudo. Não deu, não dava pra entender nada. Juro que tentei fazer ele desistir. Juro. Eu achei que fosse um surto, na verdade ainda acho. A família tem histórico, vai saber, né?
No final desisti de entender, desisti de fazê-lo desistir. Desisti de respirar, desisti de tentar bloquear as lembranças reprimidas. Sabia que já tava fudida, bem ali. Não dava mais pra voltar atrás. Aí chorei. Era, sinceramente, tudo o que me restava naquele momento. Eu sei que ele percebeu o mal que havia feito e o quanto tudo aquilo me deixou extremamente triste. "É sério que ele vai fazer a mesma coisa de novo..? Ainda não foi suficiente?" Ele me garantiu que não vai ser do mesmo jeito, mas essas coisas não se pode garantir. Nunca. Eu sei das minhas chances. Eu sei das possibilidades... E elas não parecem nada boas, confesso. Quem disse que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar não buscou informação científica suficiente. Probabilidades funcionam. Isso soma-se ao fato de que sou muito azarada, então... faça as contas.
Me senti meio Jesus Christ. Tem certas situações nas quais eu me submeto ao hábito de oferecer a outra face. E ainda bem que só tenho duas faces pra oferecer... Eu mal sei se essa segunda vai sair inteira, imagine se eu tivesse uma terceira face.
Dia 21 de Maio, uma sexta-feira atípica. Atípica é eufemismo, certo? Eu não ganhei um simples pedaço de papel. Eu recebi uma proposta, um pedido oficial e por escrito para baixar todas minhas guardas novamente, e deixar o inimigo entrar e fazer a festa, pela segunda vez. E eu aceitei, acredite você ou não, sabendo de todos os riscos.

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Mas de agora em diante, por favor, não se assuste se eu me borrar toda quando vier me trazendo um pedaço de papel dobrado. Só me avise antes que NÃO É um currículo, ok? Muito Obrigada!

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