Inspiração

A inspiração vem da tristeza. A inspiração pra tudo vem de baixo. A inspiração de verdade! Aquela que te faz tirar as palavras do estômago. Aquela que te faz vomitar tudo. Às vezes ela vem das drogas, raras vezes da alegria, da felicidade. Mas as coisas escritas com alegria são tão rasas. Tão poucas!
Não tem nada mais profundamente dito do que as coisas que a gente exprime na hora mais merda possível. Na hora que seu gato morre e a sua melhor amiga pegou seu namorado. Naquela noite que você se dá conta que nunca pegou ninguém, porque ninguém te quer. Sozinho no quarto, pensando na vida, com aquelas ideias meio loucas de "o mundo me odeia", "quem sou eu?", "pra quê eu tô aqui?".

A inspiração é EMO!

A inspiração é podre. As coisas mais lindas são ditas nos momentos mais bosta. Se Cazuza, Renato Russo, Raul estivessem vivos, diriam "Amém". A gente escreve pra fugir da realidade de merda onde enfiaram a gente. A gente escreve pra esquecer que a vida é uma bosta. A gente escreve sobre os nossos sonhos, sobre como a vida SERIA se a gente fosse bonito, interessante, ou se as pessoas nos dessem valor.

A gente escreve sobre aquela pessoa que NUNCA, eu disse NUNCA vai olhar pra gente, como se estivéssemos juntos e felizes... Porque a ilusão de aquilo ser verdade no papel traz um pingo de alívio e amor pela ficção, pela mentirinha, pelo "faz de conta".

Imagina que louco, igual naquele filme "Inception", onde as pessoas cansaram tanto dessa vida de merda que vivem dormindo, drogados, porque no sonho tudo é melhor! Eles vivem no sonho. A realidade nada mais é do que um lugar onde não se quer estar.

Pessoas como Cazuza, que escreveram o amor como ninguém. Mas daí não aprenderam a viver. Quem vive não escreve. E quem escreve não vive. Cazuza morreu cedo, bebendo, se drogando, fudendo com tudo e todos, pra morrer com HIV. Quem escreve não sabe viver. E é só por isso que a gente escreve. A vida tá lá, no papel. Mas ela não vai rolar de verdade. E a gente bebe pra poder procurar um motivo pra escrever mais, e a gente se droga pra ver se num 'barato' aparecem as ideias... E também porque nossas vidas são miseráveis.
E assim foi com Renato. E assim com Chorão. Outro que só escrevia, mas não vivia, num momento de desespero, abandonou a vida, porque pra ele talvez nem fizesse sentido essa coisa fora do utópico. A luta é intensa, e só aguenta até o fim quem tem sangue no olho. Daí escreveu tanto sobre força, atitude, se rendeu às drogas... A explicação é simples:

A gente escreve pros outros. A gente escreve o que a gente não faz. Amor, alegria, coisas boas... A gente escreve pra salvar o próximo. Porque a gente... A gente já tá perdido.

Morto e enterrado.



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O "a gente" em nenhum momento foi na intenção de me comparar a Cazuza, Renato ou Chorão... Ou aos poetas e escritores mundo afora. Longe de mim ter a pretensão de me incluir nesse grupo! Estou quilômetros abaixo. Apenas modo de dizer! =p

Pois é. Abraços!