Sou doadora

Sim, eu sou doadora. Mas um tipo de doadora especial.

Não. Eu não dôo sangue. Infelizmente. Estou um pouco abaixo do peso permitido. (Não tenho 50kg)

Medula? Também não. Mas não ainda, porque tenho planos de fazê-lo também...

Doadora de órgãos? Sim, apesar de não ter declarado abertamente à minha família, só por não achar (e ninguém gozando de plena saúde acha) que vá morrer amanhã.

Mas não vim pra falar disso. Vim pra falar de um tipo maior, bem maior de doação.

O doar o corpo, a alma, os sentidos, a razão. O doar-se por completo.

E aqui a medicina não entra. Aqui entra o amor em todas suas formas. A entrega de si. A entrega sem preconceitos, sem hesitações, sem medo ou receios.

Aquela que dói, te mata, pelo simples fato de você abrir-se a tudo o que possa te ferir, mesmo sabendo do risco que corre. E você morre a cada dia um pouco; e em outros dias você morre muito. Quem já morreu um pouco... e quem já morreu muito, sabe do que estou falando. O coração sofre, sangra... As lágrimas não são contidas...

Você chora, tendo entregado sua vida, seu amor, sua alma, sua dedicação nas mãos desse alguém. Porque sempre machuca, mesmo sem querer. A entrega dói, de todas as maneiras. E esse é o maior medo do mundo. Por isso poucas pessoas o fazem... O doar-se.

Ninguém quer sentir dor assim. Então o que você vê todos os dias são pessoas que se fecham pro mundo. E constroem barreiras de tal modo que o coração já não sente mais nada, porque existe um muro, que tanto protege, como isola. E de querer proteger-se do mundo e dos outros, as pessoas pecam pelo excesso de barreiras postas em volta do próprio coração.

Corrigindo:

Ninguém quer sentir dor assim, à não ser os doadores. Aqueles especiais, dos quais falei no início. Sim, sou uma destas pessoas. Doadores especiais. E sou tida como burra, inconsequente, infantil ou exagerada. Irracional demais e tomada pelos meus sentimentos... Me tacham como podem, às vezes por ridicuralizar, às vezes no desespero de ajudar-me. Perguntam-me porque sou assim e me dizem pra mudar, parar de dar valor às pessoas, parar de me entregar tanto. Porque assim sofreria menos...

Mas hoje... Hoje eu olhei pro céu, e vi a lua, linda como sempre. Mas mesmo assim, muito mais linda que antes. E me perguntei porque o resto do mundo não é como nós, doadores especiais. Ou simplesmente doadores. Porque no final das contas, não é da dor que você lembra. Aquela dor consentida, aquela dor que mata, a dor que te trai é toda válida quando tu te entregas de corpo, alma e coração. Quando tu amas desse jeito louco, exagerado e completo. Pleno. E no final, sempre te é tomado muito de você mesmo, porque afinal, te doastes por completo. E você fica com muito pouco do que sobrou...

Mas o melhor de tudo é descobrir que você se reconstrói por inteiro, daquele restinho que sobrou, pra se entregar por completo novamente. Enquanto todos aqueles que você amou, ainda têm um grande pedaço de ti. Aquele pedaço sincero de amor, e de doação, que talvez nunca terão de outro alguém que se fechou em barreiras no próprio coração. A recompensa não vem dos outros, mas de dentro de ti. Do quanto tu sabes que se deu, que amou, que entregou. E você descobre que, mesmo em dor, valeu a pena. Ela passa, ela sempre passa... ^^

Sem pressa, sem desesperos. A vida te dá todos os dias uma chance. Preste atenção e verá...

Não venho pedir que doem-se. Mas quando precisar, lembre-se que eu sou uma doadora especial.

Claro que terá que ser alguém especial na minha vida. Na dúvida, pergunte-me se és e eu te direi. E se fores esse alguém, tens meu respeito, amizade, amor, carinho e doação.

Hoje tive orgulho e alegria em pensar e dizer bem pra dentro de mim:

Sou doadora!

(Lucy Raiane)


E pra quem não conhece, o nome da flor é "Amor Perfeito"
(Ficadica.) Uma Boa noite.